Presos políticos e práticas de tortura

Presos políticos e práticas de tortura - Folha 8

Antes de me alongar presto um minuto de silencio em memória aos tantos compatriotas que foram eliminados por pensarem e agirem diferente das regras estabelecidas pelo regime vigente em Angola, que é para mim sim uma pura ditadura.

Por Fernando Vumby

E para provar que Angola é sim uma ditadura, manos convido-vos a visitarem as cadeias angolanas e contabilizem quantos militantes e dirigentes dos Movimentos do Protectorado das Lundas Tchokwe e da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda estão presos. São uma grande maioria e nunca foram julgados.

E se essas provas existentes asfixiadas nas cadeias angolanas e nalguns lugares secretos improvisados, não é o suficiente para classificarmos José Eduardo dos Santos e o seu regime como ditaduras sem somarmos as fraudes eleitorais e as matanças que foram institucionalizadas, então que me perdoem. Quem sabe se não serei um louco ?

Seja como for e brincadeiras à parte, Angola é sim uma ditadura e não tenho problemas em considerar José Eduardo dos Santos e outros do mesmo naipe como uma espécie de Hitler do tipo novo ou seja modernos.

Hoje fala-se em quase meio milhão de pessoas nas cadeias angolanas, sendo uma boa percentagem presos de consciência e lá porque existe simulações de eleições eleitorais, uma famigerada farsa chamada assembleia nacional, não deixa de ser uma ditadura, no meu entender.

O paradoxo é que os presos de consciência em Angola não só estão nas cadeias como até mesmo dentro do próprio MPLA, e do governo, os que já provaram um dia do próprio veneno da ditadura, mas para não terem que ser presos vão simulando uma falsa solidariedade e fidelidade ao ditador angolano JES durante esses perto de 40 anos.

Termino essa questão dos presos políticos como comecei, agora não com o minuto de silencio mais sim prestando toda minha solidariedade aos tantos presos políticos jovens, estudantes, professores, religiosos e manifestantes em especial da FLEC e do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe.

Desde os tempos da tenebrosa DISA, antiga policia secreta de Agostinho Neto, que as formas de tortura utilizada nas cadeias angolanas contra presos políticos têm uma estreita ligação e semelhança com as técnicas desenvolvidas em Cuba para torturar presos políticos.

São vários os membros da secreta angolana que conheci pessoalmente e que foram treinados e especializados em escolas cubanas e russas de onde regressaram um tanto transtornados. Aliás ainda estou para saber se bebiam sangue humano ou comiam carne de leão nesses países.

Um exemplo concreto foi o Carlos Jorge que regressou de Cuba pior que uma víbora que cuspia veneno por toda parte onde caminhava e raramente não deixava um morto por onde passasse.

Até já o chamavam o “Mariguelas” homem que antes não fumava, mas que na hora de aplicar todo o seu sadismo aos tantos presos que matou e mandou matar, na sua maioria os seus melhores amigos de infância e não só , quase esgotava com um maço de cigarros queimando os corpos das suas vitimas.

Não tenho duvidas de que a maioria dos especialistas em tortura tenha sido indicada e recrutada neste momento para servir o regime angolano, numa troca permanente de experiências com os mais variados sectores da secreta angolana sob várias fachadas.

Importa dizer que para além de Carlos Jorge, existem outros sádicos e sádicas que foram utilizadas para massacrar e que mesmo eles e elas tendo nomes e idades, nunca foram mencionados em nenhum dos livros que já li até agora e que falam dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977 e outros.

Ao falar do assassino Carlos Jorge recordo-me de uma das suas vítimas (Man Palhas) o Palhaço, o nosso inesquecível amigo e grande referância no bairro Sambizanga.

E para as pessoas da minha geração que o conheceram e não sabiam , importa dizer o seguinte. O nosso Man Palhas antes de ser eliminado já tinha uma das vistas totalmente queimada por beatas de cigarros durante as sessões de tortura ordenadas por Carlos Jorge.

Recordações do Man Palhas. Ainda me recordo como se fosse hoje daquele jovem magrito, cheio de pujança juvenil e com muita vontade que tinha de viver, que morava não muito longe da Betão Zaire, antiga fábrica de cimento e betão armado num triângulo onde tinha como vizinhos o Pedro Augusto (Pierre), um cabeçudo que guardava muita sabedoria na sua cabeça, e do outro lado morava o Pascoal Kabuz, um dos grandes lutadores, nosso mais velho.

Man Pallhas pertenceu ao grupo dos famosos e figuras de referência do bairro Sambizanga nos anos 68/74 , onde pontuavam o Zeca Pinho , Karrasquinha, Lisboa Santos, Cuca, Suze, Simião, Mr. Mbunku, Tombias Mufest, Santos (Balsam Americano), Bate Xonas, Pedro Augusto (Pierre) o Chico Tim Tim, Kiferro, Belita Pandas, Elizeu Bondecas (Gato Vitória) Miralme entre outros.

Estou a refrescar a memória para vos desenhar com uma certa precisão os instrumentos de tortura que foram utilizados em algumas cadeias contra presos políticos, no tempo da DISA , e acredito atá hoje talvez com um cheirinho diferente saído no fundo da mesma merda.

Seja como for, o método de tortura através do choque eléctrico foi um dos mais cruéis e utilizados largamente por operativos tão sádicos como Osvaldo Inácio, Carlos Jorge e Pitoko, que começava normalmente nas partes mais sensíveis do corpo dos presos como no pénis, ouvidos, língua e nos dentes com descargas sucessivas até que os presos caíssem pelo chão sem sentidos e quantos não acabaram mortos na altura ainda estou para saber.

Das vítimas de choque eléctrico, quanto sei ainda existe uma pessoa viva. Curioso. Nunca se pronunciou, quem sabe porque foi educado a ficar calado até morrer?

Termino com as palavras sábias de um dos grandes economistas angolanos que conheço, ele sabe quem é, que uma vez me disse e bem dito: ” Quem não diz hoje, não significa que não dirá qualquer dia”.

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